Perto dos 85 anos e longe de se aposentar, senhor Cristovam Linero conduz a vida e a Vitória Gráfica com foco e dedicação
Histórias de Nossas Gráficas: Vitória Gráfica
O que você imagina estar fazendo quando chegar aos 85 anos de idade? Ter tempo livre para aproveitar a aposentadoria? Passar horas perto da família? Fazer aquelas atividades que sempre adiou por causa da correria no trabalho? Se são esses os seus planos, é melhor não pedir conselhos para o diretor da Vitória Gráfica, Cristovam Linero. Perto de completar 85 anos de idade, em 12 de março, o senhor Cristovam é um daqueles apaixonados pelo o que fazem e que estão longe de cogitarem parar de trabalhar.
E trabalhar, para ele, não é apenas dar aquela passadinha na gráfica para fazer de conta que tem uma ocupação. O senhor Cristovam dá expediente todos os dias das 6h45 às 18h30, inclusive em alguns finais de semana. Com a experiência acumulada em mais de 70 anos no setor gráfico, ele faz o gerenciamento estratégico do negócio e, quando precisa, até opera as máquinas. “A família pede para eu parar, mas aí eu vou ficar chato, pois gosto muito do que eu faço”.
E essa paixão não é de hoje. O senhor Cristovam se encantou pelo mundo da impressão por influência do pai, Afonso Linero, que abriu a Gráfica Linero em 1951, em Curitiba. Em 1953, a gráfica foi vendida, mas nesse mesmo ano os irmãos Linero (Pedro, Cristovam, Artur, e Hilário) compraram a empresa de volta.
O negócio foi tocado pelos quatro até 1960, quando Cristovam, Artur e Hilário compraram a Gráfica Vitória, que já funcionava em Curitiba, e Pedro continuou com a Gráfica Linero. Em 1990, os três donos da Gráfica Vitória dividiram o negócio, sendo que o senhor Cristovam ficou com uma parte, passando a chamar Vitória Gráfica, nome atual. “Desde 90 passei a tocar a Vitória Gráfica junto com os meus filhos Josemar, Jeferson e Joseli, que faleceu em agosto de 2017”.
Ele conta com orgulho de como deu os primeiros passos no ramo gráfico. “Quando meu pai comprou a gráfica, larguei os estudos para ajudar. Tinha entre 14 e 15 anos e já trabalhava 12 horas por dia, aprendendo o oficio de impressor. Meu pai era ótimo profissional e me ensinava impressão tipográfica. Ele era rígido, pedia muita dedicação e não aceitava quando a gente errava. Por isso, eu prestava muita atenção e isso ajudou muito no aprendizado”.
Foi nessa época também que tomou gosto por algo que defende muito nos dias de hoje: a leitura. Como não havia televisão, as informações chegavam por meio do rádio e da leitura de livros. “Eu lia muitos livros técnicos e isso ampliava o aprendizado. Acho importante a leitura em material impresso e falta esse incentivo hoje, principalmente nos jovens”.
Muito trabalho
Quando os irmãos Linero compraram a gráfica, se revezavam na operação da empresa 24 horas por dia para dar conta da grande demanda de serviços. Não havia funcionários e nem equipamentos automatizados. A produção, manual, era voltada para serviços administrativos, como notas fiscais, fichários, entre outros.
Em 1960, quando o senhor Cristovam, Arthur e Hilário passaram a tocar a Gráfica Vitória, eles contavam com quatro funcionários e com poucos equipamentos. A primeira Heidelberg de Leque, tipográfica, foi comprada em 1966. Em 1970 a empresa já tinha cinco máquinas automáticas, produzindo panfletos, formulários e notas fiscais, tudo em preto e branco. Nesse ano, o quinto irmão, Luiz Fernando, passou a colaborar na Gráfica Vitória, em que ficou por oito anos. Depois, passou no concurso de auditores da Receita Federal. Sempre foi e continua sendo o conselheiro tributário dos irmãos Linero.
Em 1980, a empresa comprou a primeira offset, o que contribuiu para ampliar a produção de promocional e de embalagem. A primeira bicolor foi adquirida em 1995”.
Ao longo dos seus mais de 30 anos, a Vitória Gráfica sempre se manteve firme e com o foco em prestar serviços de qualidade, estando próxima do seu cliente. O forte hoje é o trabalho nos segmentos editorial, com livros e revistas, principalmente para o setor educacional. O senhor Cristovam conta que a empresa sempre se manteve sólida e com os pés no chão, sem dar um passo maior do que a perna. Por este motivo, por exemplo, prefere não fazer grandes investimentos no mercado digital. O atendimento a clientes desta área é feito em parceria com outras empresas.
Trabalho de educação do mercado
Em toda a sua trajetória de empresário no setor gráfico, o senhor Cristovam Linero se preocupou em contribuir para melhorar a performance das empresas, sobretudo das pequenas. O fato da Vitória Gráfica estar ativa em um segmento em que tem sido comum o fechamento das gráficas é fruto de uma inquietação que o senhor Cristovam já apresentava no início dos anos 70 em relação aos preços dos serviços praticados pelo setor.
Ele já era membro da diretoria do Sigep/Abigraf-PR quando começou a “pregar” a ideia de que o empresário tinha que conhecer seus custos para poder formar o preço de venda dos serviços. “Lembro que íamos ao interior do Paraná fazer palestras para os empresários e víamos muita simplicidade, com falta de conhecimento básico de gestão e de custos. Por isso, criamos uma tabela de preços para valorizar o serviço deles. Ainda assim, alguns diziam que não poderiam cobrar o valor que daria lucro porque os clientes não teriam condição de pagar. Ou seja, às vezes trabalhavam tendo prejuízo ou muito pouco lucro. Mas o pior é perceber que até hoje tem muito dono de gráfica que faz orçamento para o cliente sem saber ao certo seus custos”.
O senhor Cristovam alertava para a questão dos custos porque via muita discrepância no mercado, com concorrentes vendendo um impresso praticamente pela metade do que teria custado. E ele via este problema porque tinha aprendido a fazer os cálculos dos custos para a Vitória Gráfica. Como sempre foi interessado em aprender, já havia estudado por conta própria sobre formação de preço. Depois, melhorou os conhecimentos no Encontro dos Industriais Gráficos do Estado do Paraná, em 1972, com um professor do Senai/SP. “Ele deu uma apostila, que fui adaptando em relação ao que mais funcionava para o pequeno empresário. A gráfica era um negócio rentável, com média de uns 20% de lucro por produto. Hoje essa margem não chega a 10%. Por isso, mesmo na época de bons serviços muita empresa quebrou porque não sabia calcular os seus custos adequadamente. Por outro lado, saber disso fez muitas gráficas conseguirem se manter até hoje no mercado”.
Dirigente combativo
Essa consciência de ajudar sempre acompanhou o senhor Cristovam em suas atividades como membro do Sigep/Abigraf-PR. Ele conta que entrou para as entidades “meio que por acaso”. “Fui coagido, no bom sentido, a entrar no sindicato, porque um membro que iria compor a diretoria em que o Jorge Aloysio Weber seria o presidente, em 1971, foi vetado. Como eu era amigo do Raul Bley Maia, advogado do sindicato na época, ele pediu os meus documentos e me incluiu na chapa. Eu não queria, porque era pequeno empresário e sem tempo, mas acabei entrando. Aí, como estava na diretoria, fui muito ativo, e acabei me tornando presidente nas gestões de 1977/1980 e 1980/1983”.
Desde que entrou nas entidades, o senhor Cristovam sempre teve o foco em apoiar os pequenos empresários. Além de incentivar a gestão de custos nas empresas, enquanto presidente ele conseguiu reduzir o IPI de 15% para 0%, e o ISS, de 18% para 5%.
Mesmo depois dos seus dois mandatos, o senhor Cristovam se manteve ativo nas entidades, muitas vezes pontuando suas preocupações. Sempre deixou claro, por exemplo, que não concorda com as políticas de negociação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que, ao seu ver, favorecem as gráficas maiores. Também é combativo no formato do Prêmio de Excelência Gráfica Oscar Schrappe Sobrinho, o qual, diz, precisa ser mais aberto ao mercado e aos consumidores em geral para que todos percebam a importância dos materiais impressos no desenvolvimento intelectual e econômico. “Também defendo que as nossas entidades precisam forçar mais junto aos governos o incentivo à leitura de livros e a utilização de cadernos para desenvolver melhor o raciocínio das crianças”.
Por conta de divergência de pensamentos, preferiu ficar afastado das entidades entre 2013 e 2019, voltando na gestão de Edson Benvenho, em que ocupa o cargo de suplente. Voltou, diz, porque ainda quer contribuir com o setor. “Sou persistente e confiante. Aqui na gráfica, por exemplo, conseguimos passar por todas as dificuldades que a pandemia trouxe sem precisar demitir ninguém. Sempre vejo que, com empenho, conseguimos superar as dificuldades e por isso também quero continuar dando a minha visão e contribuição para o Sigep/Abigraf-PR. Mesmo com todas as decepções que tive no setor gráfico, vou continuar firme, pois isso faz toda a diferença.”
Esse é o Cristovam Linero, um senhor bom de papo, cordial e justo com seus propósitos de vida.
Ah ....e que nunca na vida tirou férias de 30 dias. “Os 15 dias de férias coletivas no fim do ano já estão bons demais”, brinca.